Querido diário,
(22/11) Inicio, a mais de duas semanas da minha última apresentação na disciplina Portfolio II, um balanço em etapas desse segundo semestre de curso. Neste momento, pensei que fosse possível estar com a Laurinha em meus braços. Mas, felizmente, ainda não. Ela aguarda dentro de mim, demonstrando ter a paciência que não puxou à mãe, e no sábado completo 32 semanas de gestação.
Desde a primeira apresentação, há dois meses, terminei de ler o livro da Elisabeth Badinter, O Conflito – a mulher e a mãe, uma leitura muito importante para delinear o contexto do meu projeto e ir, aos poucos, me apropriando do processo pelo qual a maternidade foi se transformando nas sociedades ocidentais e as mudanças fundamentais ocorridas nas últimas décadas. Também tomei coragem e submeti um resumo, relativo ao artigo que escrevi para a disciplina Seminários Interdisciplinares I no primeiro semestre, ao congresso da Alaic, que acontecerá em Montevidéu no ano que vem. Se tudo der certo – ou seja, se o resumo for aceito -, terei de ir de mala e cuia, com paper debaixo do braço, duas crianças a tiracolo e a minha mãe para ajudar, claro! Trocando em miúdos: (mais) uma legítima aventura.
Recentemente, comprei um livro na Estante Virtual de um pesquisador da Fiocruz, Gilberto Hochman, A Era do Saneamento. O autor foi uma indicação da minha orientadora, que achou fundamental eu diversificar as referências sobre o surgimento da saúde pública no Brasil. Pelo que vi, trata muito da questão da doença e da constituição desse campo no país, mas ainda não descobri, num primeiro olhar, nada específico sobre a minha área de interesse. Também reuni diversos artigos que têm relação com o meu tema, a questão da mulher e da infância no país, muitos deles descobertos na bibliografia dos livros que tenho lido, especialmente o da Maria Martha de Luna Freire, Mulheres, mães e médicos: discurso maternalista no Brasil, que é uma obra muito interessante e analisa como se constituiu o discurso maternalista, no início do século XX, a partir da leitura de duas publicações femininas da época: Vida Doméstica e Revista Feminina, voltadas às famílias burguesas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Muito curioso foi perceber, fuçando as referências bibliográficas do livro, quantos autores do campo da Educação ela consultou, em razão de a educação feminina ter estado diretamente relacionada à concretização dos ideais higienistas no país. O mundo dá voltas e, algumas vezes, a gente volta – diferente, claro – às mesmas referências, aos mesmos lugares. Saúde e educação, quem diria. Cá estou eu, novamente, redescobrindo meus professores do mestrado na Uerj e seus pares.
(29/11) Falta pouco mais de uma semana para a minha apresentação. Estou com várias ideias de artigos povoando a minha cabeça, mas elas disputam não somente espaço, mas, sobretudo, atenção com os mil e um questionamentos sobre quando e como vai ser o parto da Laura, se ela vai nascer bem, se poderá vir para casa com a gente ou precisará de cuidados especiais, como o João. A barriga está cada vez maior e mais pesada (e eu também). Uma “singela” consequência disso é que dormir se tornou uma missão quase impossível. Ainda bem que, como nas palavras do meu filhote: “Nada é impossível, mamãe”. Falta concentração, e aproveito esse tempo para reunir, reunir... Só ontem, chegaram dois livros que comprei pela internet: Mãe Natureza: Uma visão feminina da evolução – Maternidade, filhos e seleção natural, da primatologista norte-americana Sarah Blaffer Hrdy, e História das Mulheres no Brasil, coletânea organizada por Mary Del Priore. A ideia é a mesma: aproveitar esse tempo para reunir referências, agregar leituras possivelmente interligadas. E o negócio é inversamente proporcional: minha bibliografia cresce enquanto meu armário parece diminuir...


Queria fechar essas anotações com um trecho do livro de Sarah Blaffer Hrdy, que tem me ajudado a preencher esses últimos dias:
Hoje, as mães em países desenvolvidos, e com elas os pais e os filhos, penetram em terreno inexplorado. Sem ninguém que levante a mão oferecendo-se como voluntária, tornamo-nos cobaias num vasto experimento social que revela o que realmente querem fazer as mulheres que podem controlar a reprodução. As crianças também estão descobrindo o que significa ter nascido para uma complexa e multifacetada criatura que dispõe de uma gama de opções sem precedentes. É um experimento-em-curso, com dois resultados já evidentes. Primeiro, as decisões que as mães tomam nem sempre se harmonizam com as nossas expectativas convencionais acerca dessas criaturas inatamente carinhosas e altruístas. Em segundo lugar, seja o que for que a mãe de hoje decida, o mais provável é que seja uma decisão discutível em alguns setores. Em termos claros, a maternidade converteu-se num campo minado, e estamos caminhando através dele sem dispor ao menos de um mapa que nos guie. (HRDY, 2011, p.23-24)
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