segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Portfolio II - 2ª apresentação, 8 de dezembro de 2011

Querido diário,
(22/11) Inicio, a mais de duas semanas da minha última apresentação na disciplina Portfolio II, um balanço em etapas desse segundo semestre de curso. Neste momento, pensei que fosse possível estar com a Laurinha em meus braços. Mas, felizmente, ainda não. Ela aguarda dentro de mim, demonstrando ter a paciência que não puxou à mãe, e no sábado completo 32 semanas de gestação.

Desde a primeira apresentação, há dois meses, terminei de ler o livro da Elisabeth Badinter, O Conflito – a mulher e a mãe, uma leitura muito importante para delinear o contexto do meu projeto e ir, aos poucos, me apropriando do processo pelo qual a maternidade foi se transformando nas sociedades ocidentais e as mudanças fundamentais ocorridas nas últimas décadas. Também tomei coragem e submeti um resumo, relativo ao artigo que escrevi para a disciplina Seminários Interdisciplinares I no primeiro semestre, ao congresso da Alaic, que acontecerá em Montevidéu no ano que vem. Se tudo der certo – ou seja, se o resumo for aceito -, terei de ir de mala e cuia, com paper debaixo do braço, duas crianças a tiracolo e a minha mãe para ajudar, claro! Trocando em miúdos: (mais) uma legítima aventura.

Recentemente, comprei um livro na Estante Virtual de um pesquisador da Fiocruz, Gilberto Hochman, A Era do Saneamento. O autor foi uma indicação da minha orientadora, que achou fundamental eu diversificar as referências sobre o surgimento da saúde pública no Brasil. Pelo que vi, trata muito da questão da doença e da constituição desse campo no país, mas ainda não descobri, num primeiro olhar, nada específico sobre a minha área de interesse. Também reuni diversos artigos que têm relação com o meu tema, a questão da mulher e da infância no país, muitos deles descobertos na bibliografia dos livros que tenho lido, especialmente o da Maria Martha de Luna Freire, Mulheres, mães e médicos: discurso maternalista no Brasil, que é uma obra muito interessante e analisa como se constituiu o discurso maternalista, no início do século XX, a partir da leitura de duas publicações femininas da época: Vida Doméstica e Revista Feminina, voltadas às famílias burguesas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Muito curioso foi perceber, fuçando as referências bibliográficas do livro, quantos autores do campo da Educação ela consultou, em razão de a educação feminina ter estado diretamente relacionada à concretização dos ideais higienistas no país. O mundo dá voltas e, algumas vezes, a gente volta – diferente, claro – às mesmas referências, aos mesmos lugares. Saúde e educação, quem diria. Cá estou eu, novamente, redescobrindo meus professores do mestrado na Uerj e seus pares.
(29/11) Falta pouco mais de uma semana para a minha apresentação. Estou com várias ideias de artigos povoando a minha cabeça, mas elas disputam não somente espaço, mas, sobretudo, atenção com os mil e um questionamentos sobre quando e como vai ser o parto da Laura, se ela vai nascer bem, se poderá vir para casa com a gente ou precisará de cuidados especiais, como o João. A barriga está cada vez maior e mais pesada (e eu também). Uma “singela” consequência disso é que dormir se tornou uma missão quase impossível. Ainda bem que, como nas palavras do meu filhote: “Nada é impossível, mamãe”. Falta concentração, e aproveito esse tempo para reunir, reunir... Só ontem, chegaram dois livros que comprei pela internet: Mãe Natureza: Uma visão feminina da evolução – Maternidade, filhos e seleção natural, da primatologista norte-americana Sarah Blaffer Hrdy, e História das Mulheres no Brasil, coletânea organizada por Mary Del Priore. A ideia é a mesma: aproveitar esse tempo para reunir referências, agregar leituras possivelmente interligadas. E o negócio é inversamente proporcional: minha bibliografia cresce enquanto meu armário parece diminuir... 

(5/12) Estamos a três dias do Portfolio II, encerrando o semestre, o segundo do longo caminho do meu doutorado. A sensação que resume este último encontro é: 2011 voou. E, ao mesmo tempo, apesar de ter passado mais rápido do que todos os anos da minha vida, foi repleto de acontecimentos, e não meros acontecimentos, mas intensas transformações em seus quase 365 dias. Os livros que encontrei têm me livrado de fazer desses três meses de repouso um tempo perdido. Sei que perdi muito – as aulas, os encontros, a oficina de artigos... Mas, por outro lado, talvez não tivesse conseguido avançar tanto nas leituras relacionadas ao projeto. Talvez estivesse mais longe dele. Ao contrário, sinto-me totalmente conectada aos autores – sobretudo autoras – que tenho conhecido. Meu medo agora (que a minha orientadora não me ouça!) é ser tachada de ‘feminista’ por trabalhar com esse tema. Sempre fugi dos rótulos, sempre tive horror a esses ‘ismos’ e ‘istas’. Mas, no fundo, sei que preciso me aprofundar na condição da mulher, sua trajetória ao longo da história, as relações de gênero no Brasil e no mundo envolvendo a questão da maternidade e do aleitamento. E não posso nem quero me esquivar dessa tarefa.
Meu amigo, espero que me desculpe por este texto, essa colcha de retalhos mal costurada, esse alinhavo de apresentação. Confesso que, neste momento, sou uma mulher dividida entre minhas obrigações de aluna, os interesses de pesquisadora e minha ansiedade de mãe, que toma conta de quase tudo. A Laura vem aí... Está a caminho e, tenho certeza, vem completar a minha vida. Se possível, perdoe também a pieguice. Pelo menos dessa vez, vou me permitir colocar a “culpa” na minha situação. Ah, gravidez, esse estado especial...   
Queria fechar essas anotações com um trecho do livro de Sarah Blaffer Hrdy, que tem me ajudado a preencher esses últimos dias:
Hoje, as mães em países desenvolvidos, e com elas os pais e os filhos, penetram em terreno inexplorado. Sem ninguém que levante a mão oferecendo-se como voluntária, tornamo-nos cobaias num vasto experimento social que revela o que realmente querem fazer as mulheres que podem controlar a reprodução. As crianças também estão descobrindo o que significa ter nascido para uma complexa e multifacetada criatura que dispõe de uma gama de opções sem precedentes. É um experimento-em-curso, com dois resultados já evidentes. Primeiro, as decisões que as mães tomam nem sempre se harmonizam com as nossas expectativas convencionais acerca dessas criaturas inatamente carinhosas e altruístas. Em segundo lugar, seja o que for que a mãe de hoje decida, o mais provável é que seja uma decisão discutível em alguns setores. Em termos claros, a maternidade converteu-se num campo minado, e estamos caminhando através dele sem dispor ao menos de um mapa que nos guie. (HRDY, 2011, p.23-24)

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