segunda-feira, 16 de abril de 2012

Portfolio III - 1ª Apresentação (18/4/2012)


Desculpe o transtorno, objeto em construção!

Olho para esta tela em branco de computador portátil e penso: interrogação. Em lugar da lâmpada das histórias em quadrinhos, aquele balão vazio, e na cara do personagem – a minha cara -, uma expressão difícil de definir: perplexidade, cansaço, inércia, indecisão?

Este semestre, tudo diferente. Nada de filmes por enquanto. Nem na televisão. As águas que borbulhavam ideias durante a gestação estão calmas agora. Quer dizer, não estão, mas não sobra tempo para elas. O meu tempo é híbrido e mistura o frenesi das aulas e idas diárias à creche para pegar o João com a infinidade de minutos e até mesmo horas que passo sentada na cama, vendo a Laurinha mamar. Se fosse só a fome da barriga, acho que ela acabaria rápido. Mas tem toda essa carência ontológica de bebê, que se alimenta menos de leite que do meu olhar. 

O projeto caminha. Estou, neste momento, tentando (re)construir meu objeto. Inspirada e obrigada a pensá-lo a partir da leitura de Por uma sociologia reflexiva, de Pierre Bourdieu, indo de encontro ao objeto pré-construído. Mas que raios isto significa, na prática, para uma aspirante a pesquisadora de meio período como eu? Uma consequência – acho que – já identifiquei. Em vez de primeiro analisar os materiais oficiais de comunicação sobre aleitamento materno na última década (manuais e cartazes de campanhas produzidos pelo Ministério da Saúde), munida de um olhar pré-construído de socióloga que é parte de seu objeto, vou tentar, antes, ouvir as mulheres que já gostaria de entrevistar. A partir de suas falas – de suas afirmações, questionamentos, angústias – interrogar, sim, também munida do meu olhar, que me é IneRENtE, os discursos institucionais. Talvez isso transforme radicalmente os resultados do meu trabalho. E digo “talvez” porque, a esta altura, não tenho certeza de nada.

À procura desse olhar novo sobre o meu objeto, tentando reconstruí-lo em novas bases, prossigo lendo O Poder Simbólico, de Bourdieu, que é fundamental para entender as relações de poder que se dão a partir da linguagem e de outras fontes de capital simbólico, cultural. Paralelamente, estou conhecendo o trabalho da pesquisadora Mary Jane Spink, que originalmente habita a seara da psicologia, mas que enveredou pela questão das práticas discursivas e da produção de sentidos no cotidiano social.

Por insistência do meu marido e sugestão da professora Regina Marteleto, também tirei da prateleira – e com isto não estou dizendo que já iniciei a leitura – A invenção do cotidiano – 1. Artes do fazer, de Michel de Certeau, na tentativa de compreender melhor esses fluxos de discursos e práticas que não acontecem somente de acordo com o poder hegemônico, o discurso oficial, mas por meio das estratégias e táticas diárias do homem comum.

Ao meu lado (rezando para que consiga me nutrir deles um tanto por osmose), permanecem Visões do Feminino – a medicina da mulher nos séculos XIX e XX, de Ana Paula Vosne Martins; História das Mulheres no Brasil, coletânea de artigos organizada por Mary Del Priore; A Medicalização do Corpo Feminino, de Elisabeth Meloni Vieira; Mãe Natureza – Uma visão feminina da evolução – Maternidade, filhos e seleção natural, de Sarah Blaffer Hrdy; e Mulheres, mães e médicos – Discurso maternalista no Brasil, de Maria Martha de Luna Freire, professora da UFF que aceitou participar do evento que nós, doutorandos de 2011, estamos organizando na disciplina Seminários Avançados I. E muitos textos avulsos, muitos, a maioria tematizando a questão da construção de gênero, que é pano de fundo do meu trabalho. É, digamos, onde se insere necessariamente o meu tema.

Ainda entre os desafios deste semestre, estou indo a Montevidéu em maio para apresentar no congresso da Alaic o trabalho “Nada mais natural que amamentar” – discursos contemporâneos sobre aleitamento materno no Brasil, em parceria com a minha orientadora, Maria Conceição da Costa. Será a primeira vez que participo de um evento internacional e confesso que me dá um certo frio na barriga, aquele medo eterno de não conseguir.

Mas, neste momento, o que mais me inquieta é o COMO. Análise de discursos para os materiais? Grupos focais e entrevistas com as mulheres? Que caminhos metodológicos seguirei para chegar até onde queria e quero? Por onde pisar para conseguir olhar tudo isso de um jeito meu e dizer algo minimamente interessante, que não seja simplesmente cumprir o protocolo e chover no molhado? Alguém, alguém? Bem, por enquanto estou me contentando em conter em mim muitas dúvidas...

Para além do planejado, deixo a vida me levar – trocando fraldas, dormindo pouco e sentindo a felicidade sem palavras de ver dois filhos crescerem. Quanto vale isso no Lattes? Mais uma questão para minha lista interminável.




Nenhum comentário:

Postar um comentário