terça-feira, 12 de junho de 2012

Apresentação 2 - Potfolio III (13/6/2012)

 

Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém

Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor

Perdendo dentes (Pato Fu)



Sem inspiração

Inspiração, no Michaelis, tem mais de meia dúzia de ‘traduções’. Gostei mais da fisiológica, que diz: “Movimento de dilatação da cavidade torácica, que tem como conseqüência a entrada de ar para os pulmões”. Intitulei este texto de “Sem inspiração”, mas então fiquei pensando: estou mesmo sem inspiração? Como posso estar sem inspiração se nunca tive os pulmões tão cheios de ar, os músculos tão tesos de vontade, a sensação de vida tão completa?  

Talvez, na verdade, seja isto. Ao invés de sem inspiração, estou repleta dela. Tão cheia que nem consigo falar. Mas acho que, para a vida e para a tese, cabe falar do tempo. Este semestre, o tempo se fez presente mais do que nos outros. Ou presente mais intensamente. Ou, simplesmente, senti sua passagem de forma diferente. Rapidamente. “Correndo macio” demais (para citar Pato Fu novamente).

Depois de nove meses, Laura nasceu em 2 de janeiro. Dia 8 de abril fiz 34 anos. Logo em seguida, em 31 de maio, João completou 4 anos. No dia 29 de junho, meu pai, meu jovem pai, chega aos 60. E em 2 de julho, Laura JÁ completa 6 meses!!!

(Pausa para respirar)

De onde se menos espera – Também completamos, ao final deste semestre, um ano e meio de doutorado. Às vezes é difícil acreditar. Pensando no pouco tempo que teria para me dedicar ao curso nesse momento, fiz a matrícula apenas nas disciplinas obrigatórias, imaginando que precisaria passar por isso sem dor, mas também sem avanços significativos em relação ao meu projeto. Afinal, só quem não tem filhos pode pensar que a licença maternidade são férias remuneradas.

Contrariando as expectativas, este foi o semestre em que me apresentei em um evento internacional, o Alaic, que aconteceu de 9 a 11 de maio em Montevidéu. Fui mesmo de mala, cuia, Laura e a mamãe para ajudar a dar conta do recado. Na disciplina Seminários Avançados I, nós, doutorandos 2011, sob a orientação da Profa. Regina Marteleto, organizamos um evento de um dia e meio, gratuito e aberto ao público em geral, que, acredito, ficou bem interessante. A ideia era conjugar trabalhos de pesquisadores externos aos objetos ou abordagens de nossos projetos de tese. E não é que conseguimos reunir temas e pessoas que vão contribuir, de fato, para prosseguirmos com nossas pesquisas? A primeira mesa do seminário, organizada por mim e pelo colega Marcelo Robalinho, trata da influência da biomedicina na construção social da saúde e da doença, e um dos palestrantes é a Maria Martha de Luna Freire, autora que criou o conceito de “maternidade científica”, muito importante para o meu projeto.

Em Formação para Docência, outra ótima surpresa. Além de discussões extremamente ricas sobre questões que envolvem formação de docentes, políticas de currículo, o papel da universidade na atualidade, entre outras, fomos convidados a elaborar, como trabalho final, um projeto que relacionasse um dos temas discutidos ao longo da disciplina ao objeto de nossas pesquisas. Seguindo a orientação da Profa. Adriana Aguiar, desenvolvemos o trabalho em dupla, novamente eu e Robalinho, propondo uma análise de uma campanha de amamentação recente e da fala de algumas mães sobre o tema sob a ótica da aprendizagem significativa, teoria trabalhada por Ausubel e Novak (em Moreira, 1999). Ficamos tão empolgados que fomos “a campo”, ainda que virtualmente. Elaboramos um questionário, dividido em duas partes, que enviamos às mulheres pesquisadas por e-mail. Na nossa avaliação, o trabalho já foi sucesso pelo seu processo de produção, e, mesmo ciente das suas limitações, queremos muito transformá-lo em artigo para publicação. (Marcelo e Adriana, aqui está o agradecimento!)

Dividir tarefas é muito diferente de trabalhar junto (assim como a tal interdisciplinaridade, que, dizem, é algo mais complexo do que esquartejar o problema e dar a cada um o que lhe é de direito). E os trabalhos que tive a oportunidade de fazer durante este semestre, e que apresento hoje neste Portfolio, foram construídos coletivamente, por muitas mãos, mentes, desejos. Serviram não apenas ao meu projeto diretamente, mas valeram como um aprendizado para a minha vida de pesquisadora itinerante.

Queria que me desculpassem, sinceramente, o tom improvisado deste relato. Foi escrito mesmo ontem, parido a fórceps, totalmente de improviso, sem qualquer criatividade cultivada. Mas acho que, se é preciso apresentar justificativas, diria que tenho vivido demais. E mesmo sabendo que alguns aqui podem vir a discordar de mim, vejo nisso uma lógica estranha: um pouco de inspiração é bom para criar; inspiração demais transborda. Aí só vivendo.

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