Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor
Perdendo dentes (Pato
Fu)
Sem
inspiração
Inspiração, no Michaelis, tem mais de
meia dúzia de ‘traduções’. Gostei mais da fisiológica, que diz: “Movimento de dilatação da cavidade
torácica, que tem como conseqüência a entrada de ar para os pulmões”. Intitulei
este texto de “Sem inspiração”, mas então fiquei pensando: estou mesmo sem
inspiração? Como posso estar sem inspiração se nunca tive os pulmões tão cheios
de ar, os músculos tão tesos de vontade, a sensação de vida tão completa?
Talvez, na verdade, seja isto. Ao invés
de sem inspiração, estou repleta dela. Tão cheia que nem consigo falar. Mas
acho que, para a vida e para a tese, cabe falar do tempo. Este semestre, o
tempo se fez presente mais do que nos outros. Ou presente mais intensamente. Ou,
simplesmente, senti sua passagem de forma diferente. Rapidamente. “Correndo
macio” demais (para citar Pato Fu novamente).
Depois de nove meses, Laura nasceu em
2 de janeiro. Dia 8 de abril fiz 34 anos. Logo em seguida, em 31 de maio, João
completou 4 anos. No dia 29 de junho, meu pai, meu jovem pai, chega aos 60. E
em 2 de julho, Laura JÁ completa 6 meses!!!
(Pausa para respirar)
De onde se menos espera – Também
completamos, ao final deste semestre, um ano e meio de doutorado. Às vezes é
difícil acreditar. Pensando no pouco tempo que teria para me dedicar ao curso
nesse momento, fiz a matrícula apenas nas disciplinas obrigatórias, imaginando
que precisaria passar por isso sem dor, mas também sem avanços significativos
em relação ao meu projeto. Afinal, só quem não tem filhos pode pensar que a
licença maternidade são férias remuneradas.
Contrariando as expectativas, este foi
o semestre em que me apresentei em um evento internacional, o Alaic, que
aconteceu de 9 a 11 de maio em Montevidéu. Fui mesmo de mala, cuia, Laura e a
mamãe para ajudar a dar conta do recado. Na disciplina Seminários Avançados I,
nós, doutorandos 2011, sob a orientação da Profa. Regina Marteleto, organizamos
um evento de um dia e meio, gratuito e aberto ao público em geral, que,
acredito, ficou bem interessante. A ideia era conjugar trabalhos de
pesquisadores externos aos objetos ou abordagens de nossos projetos de tese. E
não é que conseguimos reunir temas e pessoas que vão contribuir, de fato, para
prosseguirmos com nossas pesquisas? A primeira mesa do seminário, organizada
por mim e pelo colega Marcelo Robalinho, trata da influência da biomedicina na
construção social da saúde e da doença, e um dos palestrantes é a Maria Martha
de Luna Freire, autora que criou o conceito de “maternidade científica”, muito
importante para o meu projeto.
Em Formação para Docência, outra ótima
surpresa. Além de discussões extremamente ricas sobre questões que envolvem
formação de docentes, políticas de currículo, o papel da universidade na
atualidade, entre outras, fomos convidados a elaborar, como trabalho final, um
projeto que relacionasse um dos temas discutidos ao longo da disciplina ao
objeto de nossas pesquisas. Seguindo a orientação da Profa. Adriana Aguiar,
desenvolvemos o trabalho em dupla, novamente eu e Robalinho, propondo uma
análise de uma campanha de amamentação recente e da fala de algumas mães sobre
o tema sob a ótica da aprendizagem
significativa, teoria trabalhada por Ausubel e Novak (em Moreira, 1999).
Ficamos tão empolgados que fomos “a campo”, ainda que virtualmente. Elaboramos
um questionário, dividido em duas partes, que enviamos às mulheres pesquisadas
por e-mail. Na nossa avaliação, o trabalho já foi sucesso pelo seu processo de
produção, e, mesmo ciente das suas limitações, queremos muito transformá-lo em
artigo para publicação. (Marcelo e Adriana, aqui está o agradecimento!)
Dividir tarefas é muito diferente de
trabalhar junto (assim como a tal interdisciplinaridade, que, dizem, é algo
mais complexo do que esquartejar o problema e dar a cada um o que lhe é de
direito). E os trabalhos que tive a oportunidade de fazer durante este
semestre, e que apresento hoje neste Portfolio, foram construídos coletivamente,
por muitas mãos, mentes, desejos. Serviram não apenas ao meu projeto
diretamente, mas valeram como um aprendizado para a minha vida de pesquisadora
itinerante.
Queria que me desculpassem,
sinceramente, o tom improvisado deste relato. Foi escrito mesmo ontem, parido a
fórceps, totalmente de improviso, sem qualquer criatividade cultivada. Mas acho
que, se é preciso apresentar justificativas, diria que tenho vivido demais. E
mesmo sabendo que alguns aqui podem vir a discordar de mim, vejo nisso uma
lógica estranha: um pouco de inspiração é bom para criar; inspiração demais
transborda. Aí só vivendo.
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