quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Portfolio VI: Texto de hoje

Apresentação Única, 06 de novembro de 2013

Felicidade

Há algum tempo pensei em eleger a música Felicidade, de Marcelo Jeneci e Chico César, para a minha apresentação de Portfolio deste semestre. Ela trata a felicidade como uma “questão de ser”, de se deixar perceber feliz, de receber, de coração aberto, o que a vida lhe oferece.

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz
Sentirá o ar sem se mexer
Sem desejar como antes sempre quis

Você vai rir, sem perceber
Felicidade é só questão de ser
Quando chover, deixar molhar
Pra receber o sol quando voltar


Decidi, após um longo e tenebroso inverno pós-qualificação, que iria parar com essa minha mania de perseguição e abandonar um certo pessimismo que me acompanha desde sempre. Quis pensar como os autores da música, quis lembrar que cada dia que deixamos passar sem ver a luz ou que choramos por não ser exatamente como desejamos não volta nunca mais.

Melhor viver, meu bem
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
Chorar, sorrir também e depois dançar
Na chuva quando a chuva vem


Resolvida que iria ser feliz, passei a vislumbrar o meu lugar ao sol. E foi assim, como naqueles filmes em que a pessoa se encontra com ela mesma no passado, e daquele encontro emergem sentimentos como estranhamento, perplexidade, identificação. Sentimentos, por vezes, contraditórios, mas que não impedem ou até contribuem para que o reencontro seja rico e surpreendente. É como se a pessoa pudesse compreender suas próprias escolhas, ser mais generosa consigo mesma. Reencontrei o desmame do meu projeto de seleção, dialoguei com ele a partir de todos os meus referenciais de agora – das letras e da vida -, fiz “ajustes de foco”, como definiria minha querida professora Inesita, e consegui, enfim, seguir adiante sem mais tanto sofrimento.

Tem vez que as coisas pesam mais
Do que a gente acha que pode aguentar
Nessa hora fique firme
Pois tudo isso logo vai passar


O sofrimento, este semestre, veio de outras fontes. Algo que Jeneci e César deixam transparecer na música é que a felicidade nunca é completa. Uma tia querida, após ser internada com uma trombose no fígado, descobriu que tem uma doença genética que causa uma coagulação excessiva do sangue, provocando tromboses. Já saiu do hospital, mas deve precisar de um transplante de fígado, e a doença continua provocando outros problemas. Ela acabou de fazer 40 anos, só cinco a mais que eu! Esses têm sido dias em que acho as coisas pesam mais do que posso aguentar.

Você vai rir, sem perceber
Felicidade é só questão de ser
Quando chover, deixar molhar
Pra receber o sol quando voltar


Tento novamente enxergar a felicidade da música, rir sem perceber. E tenho motivos para isso, pois esse tempo também tem se mostrado momento de colher os frutos de esforços anteriores. Em setembro, participei do Seminário Internacional Fazendo Gênero 10, em Florianópolis, que discutiu os desafios atuais dos feminismos e reuniu pesquisadores de vários lugares do mundo. Pra mim, uma experiência muito interessante em todos os aspectos, pois foi a primeira vez que viajei completamente sozinha para apresentar um trabalho e que deixei a Laura durante cinco dias em casa, com pai, irmão e minha mãe dando aquela força. Uma versão ampliada do artigo que inscrevi no evento está submetida para publicação, ainda sem resposta, mas acredito que com boas perspectivas.

Também participei, em outubro, da Oficina de Artigos do PPGICS. Pela segunda vez, pude me beneficiar da experiência, assistindo a palestras interessantes, perguntando, conhecendo pessoas, discutindo pontos de vista e também dando continuidade à produção de um artigo, agora já em fase de finalização, sobre os sentidos da amamentação e do desmame nos materiais de orientação ao aleitamento materno do Ministério da Saúde. Tem sido fascinante começar a pôr a mão na massa, trabalhando com os documentos a partir do referencial teórico e metodológico da tese: a Análise de Discursos. Essa aproximação intensa e rica só foi possível por estar novamente cursando, como ouvinte e monitora, a disciplina ministrada pela professora Inesita Araújo, a quem agradeço, mais uma vez e sempre, a generosidade com a qual me acolhe e releva minha irritante insistência. 

Melhor viver, meu bem
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
Chorar, sorrir também e depois dançar
Na chuva quando a chuva vem


Como fruto concreto desses três anos de doutorado, também colhemos – eu, o colega Marcelo Robalinho e a professora e co-orientadora Adriana Aguiar – a aceitação de um artigo que escrevemos no ano passado pela Revista Diálogos de la Comunicación. Tratando das aproximações e distanciamentos entre discursos oficiais e percepções maternas sobre amamentação, o trabalho será publicado na edição de janeiro, que aborda as relações entre a ciência e suas audiências. Estamos, é claro, muito felizes com a conquista. E não é que a vida é mesmo assim? Chorar, sorrir também e depois dançar. Dançar na chuva quando a chuva vem. Dançar na chuva quando a chuva vem...

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