sf (baixo-lat fractione) 1 Ato de dividir ou quebrar. 2
Divisão de uma coisa em partes. 3 Parte ou partes iguais de um todo em
relação a ele. 4 Mat
Número que exprime uma ou várias das partes iguais em que se divide uma unidade
ou um inteiro (Michaelis online)
Nunca
fui boa em matemática, pois sempre tive dificuldade em lidar com números. Minha
fluência foi, desde que me entendo por gente, com as palavras. Então, trabalhar
com frações, vocês podem imaginar, é um desafio e tanto para mim. E hoje me
sinto assim: experimentando uma vida de frações.
1/3 (Um terço) – Pra começar, neste Portfolio e daqui em diante, somos 6 e
não mais 18, como num longínquo 2011. Os mestrandos, agora mestres, fazem falta
por tudo que traziam de positivo para esse momento: a algazarra, os encontros,
os lanches, as trocas acadêmicas e afetivas, a composição completa da nossa
turma de espírito desafiador: AVASSALADORES. Infelizmente, as defesas das
dissertações se acumularam no final de fevereiro, e, em razão disso e também
das minhas dificuldades de trabalho e pessoais, só pude assistir a duas: a da Bel
Levy e a da Danielle Fortuna. O mais interessante é que, além da oportunidade
de prestigiá-las, pude ter uma ideia de como é uma defesa no PPGICS,
acompanhando pesquisas que abordaram temáticas e adotaram metodologias bem
diferentes entre si.
1/2 (Metade) – A sensação de chegar à metade do curso é, ao mesmo tempo,
de angústia e alívio. Angústia por saber que só me resta metade do tempo para
fazer tudo o que desejo e que me propus a fazer neste doutorado. Alívio porque
sei que já cumpri uma parte considerável do trajeto, aprendi muito nesse
percurso e cheguei, não sem alguns arranhões, ao divisor de águas da
qualificação.
1/10 (Um décimo) – ...da minha angústia diminuiu agora que, finalmente,
consegui definir meu recorte de pesquisa, A pergunta e alguns métodos
possíveis. A minha sensação é de que, enfim, saí viva do mar de indecisão onde
me encontrava afogada há vários meses. Se quando entrei no doutorado queria
analisar as representações do desmame nos materiais oficiais de orientação à
amamentação, ao longo dos últimos dois anos, abri mais e mais portas sem a
menor noção de como poderia me encontrar novamente. Aaahhh, agora respiro
fundo, encho os pulmões de ar, me recomponho para seguir adiante. A questão a
ser enfrentada tem 19 palavras e 134 caracteres com espaços: As campanhas oficiais de promoção ao
aleitamento materno brasileiras são pertinentes e adequadas ao público-alvo ao
qual se destinam? A proposta é “responder”, ou melhor, arriscar respostas
possíveis a essa pergunta por meio de uma análise textual das campanhas
embasada por um estudo de sua recepção pelas mulheres selecionadas para a
pesquisa.
Os
referenciais teóricos e metodológicos se definiram mais e o engraçado é que,
por mal traçadas linhas, me reencontro com autores e discussões do meu mestrado
em educação. Acho que o meu olhar sobre o tema, minha forma de me aproximar
dele, passou de uma perspectiva mais foucaultiana e bourdiana para uma visão
contaminada pelos estudos culturais e pós-coloniais de autores como Stuart Hall,
Jesús Martín-Barbero, Néstor García Canclini e Jacques Derrida com seu conceito
de différance – que, segundo Hall, é
definida, para o filósofo francês, como “uma ‘onda’ de similaridades e
diferenças, que recusa a divisão em oposições binárias fixas” (HALL, 2003, p.
60). Não que Foucault e Bourdieu não estejam presentes na minha reflexão, até
porque acredito que a perspectiva da voz autorizada, do discurso hegemônico, do
interdito, do poder simbólico instituído por meio da posse de um certo capital
cultural é a base sobre a qual podemos falar em negociação, em entrada das
vozes oprimidas no diálogo e na polifonia necessária a uma comunicação genuína.
Mas, justamente, a ideia de negociação, de mediação agora se faz mais forte – o
receptor sendo entendido como sujeito de uma interlocução, alguém que
ressignifica, na letra e na vida, os conteúdos e formas do discurso oficial.
7/6 (Esta não é uma fração,
mas uma data) - Marcada para o dia 7 de
junho, a banca de qualificação ficou acima das expectativas. Reunirá
profissionais internos e externos que dão conta dos dois campos principais por
onde circula o projeto: os estudos de gênero aplicados à saúde e as teorias e
metodologias sobre o processo de produção, circulação e apropriação dos
discursos, especificamente de materiais educativos em saúde. Inesita Soares
Araújo e Adriana Kelly Santos (Icict), Maria Martha de Luna Freire (UFF) e
Regina Simões Barbosa (UFRJ) são, além de membros da banca, referências
bibliográficas da pesquisa. Maria Conceição da Costa, orientadora, e Josué
Laguardia são professores que me introduziram na discussão do risco em saúde,
apresentando-me autores como Ulrich Beck, Mary Douglas e a própria Joan Wolf,
que discute a questão do risco nas campanhas pró-amamentação norte-americanas,
fecharão o time que, com certeza, irá apontar deficiências e, espero, indicar
caminhos para que a tese alcance os melhores resultados.
?/100 (Quantos por cento?) – Sei que terei de lidar com a questão de quanto do descrito
no meu projeto serei capaz de realizar, deixando de lado as vaidades e aquele
eterno desejo – que alguns chamam de pretensão – de realizar um trabalho
maravilhoso, uma tese digna de publicação, enfim, essas coisas que, querendo ou
não, fazem parte, mais ou menos importante, da vida de quem segue uma
trajetória acadêmica. Tenho muitas ideias e uma vontade enorme de ler,
pesquisar, escrever. Por outro lado, falta-me tempo disponível exclusivamente
para isso e sobram outros compromissos que me afastam, muitas vezes, dos meus
planos em relação ao projeto: trabalho, casa e, principalmente, filhos – que
são lindos, que precisam de cuidados, que solicitam atenção, que adoecem e
necessitam de ainda mais cuidados e atenção. Então percebo que terei de
continuar lidando com os prós e os contras dessa minha “dupla” jornada. Porque
assim o quis. Porque não abro mão de ser tudo o que sou. Quero acreditar também
que, em alguma medida impossível de mensurar exatamente, minha pesquisa se
beneficia disso. Tento crer que sim...
A outra metade – A partir da qualificação, e nos próximos quase dois anos
até a defesa, tenho muito trabalho a fazer. A começar pelo fechamento do
projeto, dos instrumentos de coleta – questionário, roteiro de entrevista -, e
de sua inscrição na Plataforma Brasil para obter aprovação no Comitê de Ética.
Uma vez dado o sinal verde, terei de fazer seleção da amostra, o trabalho de campo
propriamente dito, a análise dos dados, sua sistematização e apresentação. Isso
sem falar na coleta das campanhas e sua análise no diálogo com os muitos
referenciais teóricos requeridos para interpretá-las. E ainda é preciso dizer
que continuo amamentando a Laura, dividida entre os mil dilemas do desmamar,
vivenciando mais um pouco o entrelaçamento entre a tese e a vida. E ambas continuam.
When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom, let it be
And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom, let it be
And when the night is cloudy
There is still a light that shines on me
Shine on until tomorrow, let it be
I wake up to the sound of music,
Mother Mary comes to me
There will be no sorrow
(Let it be, The Beatles)
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