quarta-feira, 24 de abril de 2013

Portfolio V - Apresentação 1 (24/4/2013)

Lição de hoje: frações

sf (baixo-lat fractione) 1 Ato de dividir ou quebrar. 2 Divisão de uma coisa em partes. 3 Parte ou partes iguais de um todo em relação a ele. 4 Mat Número que exprime uma ou várias das partes iguais em que se divide uma unidade ou um inteiro (Michaelis online)

Nunca fui boa em matemática, pois sempre tive dificuldade em lidar com números. Minha fluência foi, desde que me entendo por gente, com as palavras. Então, trabalhar com frações, vocês podem imaginar, é um desafio e tanto para mim. E hoje me sinto assim: experimentando uma vida de frações.

1/3 (Um terço) – Pra começar, neste Portfolio e daqui em diante, somos 6 e não mais 18, como num longínquo 2011. Os mestrandos, agora mestres, fazem falta por tudo que traziam de positivo para esse momento: a algazarra, os encontros, os lanches, as trocas acadêmicas e afetivas, a composição completa da nossa turma de espírito desafiador: AVASSALADORES. Infelizmente, as defesas das dissertações se acumularam no final de fevereiro, e, em razão disso e também das minhas dificuldades de trabalho e pessoais, só pude assistir a duas: a da Bel Levy e a da Danielle Fortuna. O mais interessante é que, além da oportunidade de prestigiá-las, pude ter uma ideia de como é uma defesa no PPGICS, acompanhando pesquisas que abordaram temáticas e adotaram metodologias bem diferentes entre si.

1/2 (Metade) – A sensação de chegar à metade do curso é, ao mesmo tempo, de angústia e alívio. Angústia por saber que só me resta metade do tempo para fazer tudo o que desejo e que me propus a fazer neste doutorado. Alívio porque sei que já cumpri uma parte considerável do trajeto, aprendi muito nesse percurso e cheguei, não sem alguns arranhões, ao divisor de águas da qualificação.

1/10 (Um décimo) – ...da minha angústia diminuiu agora que, finalmente, consegui definir meu recorte de pesquisa, A pergunta e alguns métodos possíveis. A minha sensação é de que, enfim, saí viva do mar de indecisão onde me encontrava afogada há vários meses. Se quando entrei no doutorado queria analisar as representações do desmame nos materiais oficiais de orientação à amamentação, ao longo dos últimos dois anos, abri mais e mais portas sem a menor noção de como poderia me encontrar novamente. Aaahhh, agora respiro fundo, encho os pulmões de ar, me recomponho para seguir adiante. A questão a ser enfrentada tem 19 palavras e 134 caracteres com espaços: As campanhas oficiais de promoção ao aleitamento materno brasileiras são pertinentes e adequadas ao público-alvo ao qual se destinam? A proposta é “responder”, ou melhor, arriscar respostas possíveis a essa pergunta por meio de uma análise textual das campanhas embasada por um estudo de sua recepção pelas mulheres selecionadas para a pesquisa.

Os referenciais teóricos e metodológicos se definiram mais e o engraçado é que, por mal traçadas linhas, me reencontro com autores e discussões do meu mestrado em educação. Acho que o meu olhar sobre o tema, minha forma de me aproximar dele, passou de uma perspectiva mais foucaultiana e bourdiana para uma visão contaminada pelos estudos culturais e pós-coloniais de autores como Stuart Hall, Jesús Martín-Barbero, Néstor García Canclini e Jacques Derrida com seu conceito de différance – que, segundo Hall, é definida, para o filósofo francês, como “uma ‘onda’ de similaridades e diferenças, que recusa a divisão em oposições binárias fixas” (HALL, 2003, p. 60). Não que Foucault e Bourdieu não estejam presentes na minha reflexão, até porque acredito que a perspectiva da voz autorizada, do discurso hegemônico, do interdito, do poder simbólico instituído por meio da posse de um certo capital cultural é a base sobre a qual podemos falar em negociação, em entrada das vozes oprimidas no diálogo e na polifonia necessária a uma comunicação genuína. Mas, justamente, a ideia de negociação, de mediação agora se faz mais forte – o receptor sendo entendido como sujeito de uma interlocução, alguém que ressignifica, na letra e na vida, os conteúdos e formas do discurso oficial.

7/6 (Esta não é uma fração, mas uma data) - Marcada para o dia 7 de junho, a banca de qualificação ficou acima das expectativas. Reunirá profissionais internos e externos que dão conta dos dois campos principais por onde circula o projeto: os estudos de gênero aplicados à saúde e as teorias e metodologias sobre o processo de produção, circulação e apropriação dos discursos, especificamente de materiais educativos em saúde. Inesita Soares Araújo e Adriana Kelly Santos (Icict), Maria Martha de Luna Freire (UFF) e Regina Simões Barbosa (UFRJ) são, além de membros da banca, referências bibliográficas da pesquisa. Maria Conceição da Costa, orientadora, e Josué Laguardia são professores que me introduziram na discussão do risco em saúde, apresentando-me autores como Ulrich Beck, Mary Douglas e a própria Joan Wolf, que discute a questão do risco nas campanhas pró-amamentação norte-americanas, fecharão o time que, com certeza, irá apontar deficiências e, espero, indicar caminhos para que a tese alcance os melhores resultados.

?/100 (Quantos por cento?) – Sei que terei de lidar com a questão de quanto do descrito no meu projeto serei capaz de realizar, deixando de lado as vaidades e aquele eterno desejo – que alguns chamam de pretensão – de realizar um trabalho maravilhoso, uma tese digna de publicação, enfim, essas coisas que, querendo ou não, fazem parte, mais ou menos importante, da vida de quem segue uma trajetória acadêmica. Tenho muitas ideias e uma vontade enorme de ler, pesquisar, escrever. Por outro lado, falta-me tempo disponível exclusivamente para isso e sobram outros compromissos que me afastam, muitas vezes, dos meus planos em relação ao projeto: trabalho, casa e, principalmente, filhos – que são lindos, que precisam de cuidados, que solicitam atenção, que adoecem e necessitam de ainda mais cuidados e atenção. Então percebo que terei de continuar lidando com os prós e os contras dessa minha “dupla” jornada. Porque assim o quis. Porque não abro mão de ser tudo o que sou. Quero acreditar também que, em alguma medida impossível de mensurar exatamente, minha pesquisa se beneficia disso. Tento crer que sim...

A outra metade – A partir da qualificação, e nos próximos quase dois anos até a defesa, tenho muito trabalho a fazer. A começar pelo fechamento do projeto, dos instrumentos de coleta – questionário, roteiro de entrevista -, e de sua inscrição na Plataforma Brasil para obter aprovação no Comitê de Ética. Uma vez dado o sinal verde, terei de fazer seleção da amostra, o trabalho de campo propriamente dito, a análise dos dados, sua sistematização e apresentação. Isso sem falar na coleta das campanhas e sua análise no diálogo com os muitos referenciais teóricos requeridos para interpretá-las. E ainda é preciso dizer que continuo amamentando a Laura, dividida entre os mil dilemas do desmamar, vivenciando mais um pouco o entrelaçamento entre a tese e a vida. E ambas continuam.

When I find myself in times of trouble

Mother Mary comes to me

Speaking words of wisdom, let it be

 

And in my hour of darkness

She is standing right in front of me

Speaking words of wisdom, let it be

 

And when the night is cloudy

There is still a light that shines on me

Shine on until tomorrow, let it be

 

I wake up to the sound of music,

Mother Mary comes to me

There will be no sorrow

 

(Let it be, The Beatles)

 

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