domingo, 20 de março de 2011

Registro: Assim era o projeto na Seleção 2010


(Para ficar mais fácil acompanhar o desenrolar - ou enovelar - da tese)

O que era doce acabou – Uma análise do desmame nos discursos oficiais de orientação ao aleitamento materno



Objetivos
O objetivo principal deste projeto é analisar as aparições e omissões acerca do tema desmame nos discursos dos materiais de orientação ao aleitamento materno produzidos pelo Ministério da Saúde na última década. Interessa-nos interpretar os sentidos do desmame ali privilegiados, buscando compreender as motivações relacionadas ao dito e ao não-dito sobre esse processo nos discursos que incentivam a mãe a iniciar o aleitamento, dar continuidade a ele, mas quase nunca a esclarecerem a respeito da complexidade de sentimentos e sentidos que permeia o encerramento da experiência da amamentação.
Este trabalho encontra seu lugar, precisamente, na necessidade de problematizar a abordagem do desmame – bem como da amamentação – no discurso oficial dos manuais, cadernos e álbuns seriados produzidos com o objetivo de orientar profissionais de saúde e população em geral à prática favorável do aleitamento materno. Tais materiais reproduzem um modelo desenvolvimentista da comunicação, para o qual a informação deve ser transmitida por meio de um processo “bipolar, linear, unidirecional e vertical” (ARAÚJO, 2004, p.166), e permanecem pautados, basicamente, em uma concepção biologicista do papel da mulher-mãe na sociedade.
O objetivo seguinte à análise do material existente sobre aleitamento materno, enfocando a questão do desmame, é propor uma reflexão sobre a abordagem do tema nos materiais educativos governamentais da educação para o amamentar, vislumbrando possíveis aproximações da comunicação em saúde com uma proposta mais ampla e integradora de diversos saberes – inclusive das próprias mulheres/mães e suas famílias - na educação para o amamentar. Tal reflexão será realizada com base nas discussões trazidas pelos referenciais teóricos selecionados e na interlocução desses discursos oficiais com outros discursos, como aqueles produzidos pelas organizações não governamentais que atuam no apoio à amamentação, como Amigas do Peito[1] e Matrice[2].
Relativizar esse saber médico historicamente naturalizado como verdade é um ponto fundamental para rediscutir o binômio amamentação-desmame sob outras óticas – inclusive a ótica do controle social sobre o corpo e a subjetividade da mulher – e trazer uma necessária polifonia ao campo da informação e da comunicação em saúde no processo da educação para o amamentar. Em razão disto, para que os manuais possam garantir uma orientação plena em relação à necessidade materna de informações – e também dos profissionais responsáveis por prestar a elas apoio durante o puerpério –, é preciso que o desmame esteja presente em sua integralidade, para além do seu aspecto nutricional.
Tal integralidade só pode se constituir por meio de uma “atitude de escuta” das diversas vozes envolvidas nesse processo comunicacional e por uma percepção mais ampla da mulher enquanto lactante. Esta percepção permitirá a construção de uma educação para o amamentar capaz de ouvir antes de aconselhar, de incluir as vozes do pai, de outros filhos e de demais familiares antes de prescrever, e, sobretudo, de compreender o contexto ao qual se dirige antes de atuar (CASTRO, 2006, 179).
Como aponta Hames (2006), o processo de amamentação encontra-se imbricado em uma rede de valores envolvendo mulheres, suas famílias, profissionais de saúde e sociedade como um todo, e essa configuração multidimensional exige “diferentes abordagens e intervenções para uma atuação efetiva na problemática que é o ser mãe, amamentar e desmamar o filho/a nos dias atuais” (p.22). Novas e diferentes abordagens não apenas no que se refere a uma assistência direta, protagonizada pelo profissional de saúde, mas também no âmbito da informação, da comunicação e das mediações em saúde.


[1] A ONG Amigas do Peito, com sede no Município do Rio de Janeiro, foi fundada em 1980 por um grupo de mulheres que percebeu “a importância de compartilhar dificuldades, expectativas e sucessos vividos com a amamentação”. Realiza eventos e reuniões e presta apoio a mães por meio de consultas por e-mail e do Disque-Amamentação. (Informações coletadas no sítio da organização. Disponível em http://www.amigasdopeito.org.br/. Acesso em 6 out. 2010).
[2] A associação Matrice – Ação de apoio à amamentação, sediada no Município de São Paulo, é composta por “Mães que ajudam outras mães a amamentar”. A partir de suas próprias histórias de amamentação, que mudaram suas vidas, o grupo de mulheres realiza reuniões e presta apoio a outras mães com o objetivo de “acolher a amamentação e tudo ligado a ela (aporte adequado de nutrientes, dependência física e emocional, peso social, familiar e no ambiente de trabalho) e transformar isso tudo em experiências pessoais positivas de crescimento”. (Informações coletadas no sítio da organização. Disponível em http://matrice.wordpress.com/. Acesso em 6 out. 2010).

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